A questão da diferenciação terminológica entre integração e inclusão é considerada por muitos como desnecessária. Por outro lado, ela tem sido bastante útil para que possamos compreender as mudanças que vêm sendo propostas no que se refere ao tratamento dado às pessoas com deficiência. Desde que, com os avanços das ciências médicas, da psicologia, e de outras ciências afins, as pessoas com deficiência deixaram de ser tratadas como possuídos, videntes, ou como desvalidos castigados por Deus, a deficiência passou a ser considerada como assunto médico. Concebida, diagnosticada e estudada como doença, como tal passou a ser tratada: aí está a raiz do chamado paradigma de reabilitação, que traz como princípio básico a idéia de recuperação ou aquisição de funções, tendo como parâmetro o que é considerado normal. O conceito de normal, ou de norma, e daquilo que não o é (o desvio) é bastante complexo, tendo sido tratado por diversos autores, tais como Canguilhen, Goffmann, Gilberto Velho, entre outros. Para esta reflexão vamos apenas lembrar que o critério de normal não é apenas estatístico (aquilo que é maioria), mas também ideológico (aquilo que é ideal); atualmente, por exemplo, considera-se que o normal (ideal) é o corpo magérrimo das Top-models, embora este seja um padrão inatingível para a grande maioria da população. Em relação às pessoas com deficiência, elas são facilmente enquadráveis em qualquer critério para se definir e mensurar desvio, afinal a deficiência é uma diferença significativa. Os tratamentos destinados a estas pessoas, então, colocam como meta os padrões de normalidade, que devem ser buscados o máximo possível para que a pessoa (reabilitada), possa integrar-se à sociedade. Aí se define o conceito de Integração. Integrar-se é um caminho de mão única: cabe à pessoa com deficiência modificar-se para poder dar conta das exigências da sociedade. É um processo de seleção, processo que atinge todas as pessoas, uma vez que vivemos em uma sociedade altamente competitiva; com as pessoas com deficiências, no entanto, o processo se faz mais perverso: não lhes é dada nem a oportunidade de competir, elas são excluídas por princípio, o princípio da incapacidade. Se incapazes, devem ser reabilitadas, se não reabilitadas adequadamente, não podem se integrar. Ora, mas basta olharmos em nossa volta para percebermos que a diversidade é a regra. Não há homogeneidade na natureza, não há homogeneidade entre os homens. Não é mais possível basear nossos pensamentos e ações na idéia dos iguais entre os iguais (e isso vale para todas as categorias de excluídos, não só para as pessoas com deficiências - para quem ainda tiver alguma dúvida recomenda-se a leitura do livro: Sociedade Inclusiva: quem cabe no seu Todos?, de Claudia Werneck). É a partir do princípio do respeito à diversidade que se firma o movimento da Inclusão Social. De maneira nenhuma se propõe a negação das diferenças, mas sim o respeito a elas. Não se propõe a igualdade burra, do tipo < somos todos deficientes >, mas a eqüidade: a todos, oportunidades iguais, a cada um segundo sua necessidade. Não se trata de preparar para integrar, mas de incluir e transformar.
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